Podwoloczyska, Galícia, Austro-Hungria
(atual Pidwolotschysk, Ucrânia), 1900 — Basiléia, Suíça, 1996

 

Romancista, biógrafo, dramaturgo, editor

 

A longevidade e a energia o converteram num dos mais pródigos e respeitados memorialistas. Ao morrer era considerado um monumento vivo à literatura alemã do século XX. Escritor inspirado, militante desassombrado, participou ativamente do resgate da fina flor da intelectualidade européia para os EUA.

 

Filho do comerciante judeu Isaac Kesten, mudou-se com a família em 1904, ainda criança, para Nuremberg, onde concluiu o curso secundário. Entre 1919 e 1923 estudou direito, filosofia, história e literatura alemã em Erlangen e, depois, em Frankfurt. Produziu uma extensa obra literária, vinculando-se ao movimento conhecido como Nova Objetividade.

 

Em 1927 estabeleceu-se em Berlim, onde trabalhou na editora de esquerda Kiepenheuer e obteve o primeiro sucesso nas letras, com o romance Joseph sucht die Freiheit [José procura a liberdade], seguido de Ein ausschweifender Mensch [Um homem dissoluto; 1929], Gluckliche Menschen [Homens felizes; 1931] e Der Scharlatanen [O charlatão; 1932]. Publicou algumas peças teatrais e sua acuidade como editor permitiu que organizasse diversas antologias de novos escritores, algumas tão representativas que foram reeditadas 50 anos depois.

 

Escreveu biografias de Fernando e Isabel (1936), Felipe II (1938), Copernico (1948) e Casanova (1952) e em 1939 publicou Die Kinder von Gernika [As crianças de Guernica], libelo contra o franquismo.

 

Sua atuação antifascista e especialmente seu livro O charlatão, um evidente ataque ao hitlerismo, obrigou-o ao exílio tão logo os nazistas tomaram o poder. Perambulou pela Europa passando por Nice, na França, onde manteve estreitos contatos com Stefan Zweig, Joseph Roth, Heinrich Mann e uma plêiade de refugiados. Em Amsterdã, foi contratado como editor pela Allert de Lange e junto com Walter Landauer ajudou a construir a grande apoiadora da literatura alemã no exílio.

 

A ocupação da Holanda pelos alemães obrigou-o a fugir para a França onde foi internado num campo de concentração como “estrangeiro inimigo”. Conseguiu escapar em maio de 1940 para os Estados Unidos, sendo logo recrutado para assumir o Emergency Rescue Committee (v. verbete) ao lado de Erika Mann. Foi um dos coordenadores da operação de resgate de intelectuais perseguidos pelo nazismo, comandada pelo novaiorquino Varian Fry, que incluiu entre as mais de mil pessoas salvas, Friderike Zweig, suas filhas e genros (v. verbetes)

 

Manteve regular correspondência com Stefan Zweig, focada sobretudo em temas literários. Fez restrições póstumas à biografia de Maria Antonieta (“uma nota de rodapé a uma conferência de Sigmund Freud sobre psicanálise”) que não desagradaria a Zweig como a Freud. Mas deixou um preciso e precioso testemunho sobre Zweig: “...um homem curioso e complicado, complexo e interessante (...) um grão-burguês nas maneiras e anti-burguês nas convicções (...) um pessimista alegre e um otimista que só enxergava a morte.”

 

Fascinado com o tema do exílio, publicou em alemão e em inglês os poemas de Heine, o patrono do exílio alemão, e foi o responsável pela recuperação da obra completa do amigo Joseph Roth, inclusive de sua correspondência (na qual Zweig aparece assiduamente).

 

Depois da guerra, em 1949, retornou à Alemanha (Ocidental), onde foi festejado, premiado e escolhido como presidente do P.E.N. Club. Agora o veterano socialista não se encantou com a literatura produzida na Alemanha comunista. Preferiu Roma onde viveu de 1955 a 1977 e quando enviuvou de Toni (Antoine) Kesten (nascida Warowitz), instalou-se na Basiléia, Suíça. Lá passou seus últimos anos numa instituição judaica para idosos.

 

Tranqüila é a última carta de Zweig para Kesten escrita em Petrópolis pouco mais de trinta dias antes de suicidar-se: com algum bom-humor, dá conta dos trabalhos recentes e compartilha as preocupações dos escritores exilados, engajados na tarefa de fortalecer a editora Bermann-Fischer, em Estocolmo, o último baluarte da literatura alemã livre. Conseguiram (v. verbete).

 

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