CANTO DOS EXILADOS

Rawitscher, Felix


Botânico
Frankfurt am Main, 1890 – Freiburg, 1957

No Brasil, de 1934 a 1952

Um dos três professores alemães convidados por ocasião da criação da USP, em 1934, estudou Ciências Naturais em Bonn, Freiburg e Genebra e se doutorou em 1912 com uma dissertação sobre a sexualidade de uma espécie de fungos, os Ustilagineae. Na Primeira Guerra mundial, foi gravemente ferido e feito prisioneiro de guerra na Franca. Nomeado professor titular da cadeira de Botânica da Escola Superior de Baden da Universidade de Freiburg, perdeu o cargo quando Hitler tomou o poder. Aceitou o convite da USP para organizar o Departamento de Botânica na recém-criada Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras. Chegou ao Brasil no dia 30 de junho de 1934 com os dois outros professores convidados e sua família. Só voltou à Alemanha em 1952, depois de sofrer um grave ataque cardíaco. A seguir o relato de uma de suas discípulas, Bertha Lange de Morretes, professora do Departamento de Botânica da Faculdade de Biociências da USP: “Em seus primeiros contatos com a juventude da época, verificou ser necessário estabelecer um bom programa de ensino, em moldes internacionais. Introduziu duas horas de aulas práticas para cada aula teórica, fato inédito nos estudos de Botânica no Brasil. Além das aulas práticas, as excursões para a observação da vegetação dos diversos ecossistemas passaram a ser rotina durante o curso de Ciências Naturais. Preocupado com a bibliografia em língua portuguesa, e a fim de que os alunos pudessem estudar botânica em moldes científicos, Rawitscher publicou, em 1940, o livro texto intitulado Elementos básicos de botânica geral, empregando para ilustrá-lo, tanto quanto possível, espécies brasileiras. O livro em questão abrange informações fundamentais sobre morfologia, taxonomia, anatomia e fisiologia e ainda é usado atualmente. Desde que chegou ao Brasil empolgou-se pelos inúmeros problemas de nossa flora e, em pouco tempo, transformou-se em grande conhecedor da ecologia tropical. Publicou Problemas de fitoecologia com considerações especiais sobre o Brasil Meridional (1942 e 1944), obra em que analisa os fatores ecológicos mais importantes que atuam sobre a vegetação brasileira. Estudou especialmente as plantas do cerrado, ecossistema que o encantou desde o momento em que o conheceu. Assim, estabeleceu as primeiras linhas de pesquisa do Departamento de Botânica — estudos fisiológicos e ecológicos das espécies do cerrado. Mais tarde, essas linhas foram ampliadas e taxonomia, morfologia e anatomia ganharam relevo. Rawitscher, desde o início, preocupou-se com a formação da escola, visando a preparar docentes capacitados a substituí-lo quando tivesse de se afastar. Foram seus primeiros colaboradores brasileiros Mário Guimarães Ferri, Mercedes Rachid, Berta Lange de Morretes e Aylthon Brandão Joly, alunos que, sob sua orientação, realizaram o doutoramento.”


Fonte: Bertha Lange de Morretes, Instituto de Estudos Avançados da USP, 2008 e Ibero-Amerikanisches Archiv, Zeitschrift für Sozialwissenschaften und Geschichte, Jahrgang 21, 1995, Heft 1-2.