Blankenberge, Bélgica 1889 — Avignon, França, 1972

 

Artista gráfico, xilogravurista, ilustrador

 

Trabalhando como ilustrador de jornais e revistas, Masereel conheceu Stefan Zweig na Suíça, em 1917, quando combatiam pela paz junto com outros intelectuais e artistas de toda a Europa.

 

“Figura maciça e doce, olhar grave atrás dos óculos, como Verhaeren, só usa roupa de veludo grosso, no estilo dos operários. Ele me atraiu desde o primeiro minuto...” “Maravilhoso, gosto principalmente do seu jeito grave e da maneira com que escuta. Jamais esperei tanto de uma pessoa...” “...Um reconforto [nestes dias difíceis] : tão claro, puro, tão bom. Estou consciente: existem poucas pessoas à minha volta que amo. Tudo [nele] é bondade, energia, não existe combinação mais maravilhosa.

 

Não obstante seu traço duro e cortante, Masereel é a pessoa mais querida a frequentar as páginas dos diários. Nas cartas para Friderike não esconde o afeto pelo artista vigoroso, pleno de bonomia.

 

Masereel é considerado por artistas do porte de Will Eisner e Art Spiegelman como o criador da graphic novel, através da grande coleção de novelas sem palavras produzidas justamente durante a cruzada pacifista. O grupo reunia-se em torno de dois jornais independentes, Demain, fundado pelo mercurial Guilbeaux (comunista convertido ao anti-comunismo) e La Feuille, onde Masereel publicava diariamente suas xilogravuras sobre os horrores da guerra.

 

A figura central foi Romain Rolland, prêmio Nobel de Literatura em 1915. Mas lá estavam também os revolucionários russos como Lenin e Trostki à espera da queda do czar, o irlandês James Joyce escrevendo em inglês mas intensamente anti-britânico no espírito, o compositor Ferruccio Busoni e muitos outros.

 

Masereel ilustrou o monumental Jean Christophe, de Rolland, com 666 xilogravuras e para Zweig a novela pacifista Der Zwang [A obrigação] usando as figuras de Stefan e Friderike como modelos para o casal de protagonistas. Para coleção de obras completas em russo (1926) fez o mais fiel retrato de Zweig, reproduzido centenas de vezes até hoje. Ilustrou também obras de outros grandes escritores, como Émile Zola e Thomas Mann.

 

Estiveram muito próximos nos 23 anos seguintes em Paris, Nice, Ostende e Salzburgo, até 1940, quando Zweig deixou a Europa rumo ao Novo Mundo. E mesmo garantido do outro lado do Atlântico, Zweig tentou obsessivamente obter para Masereel vistos de entrada para o Brasil, Argentina, Colômbia e Estados Unidos. Não conseguiu: talvez porque estivesse demasiadamente angustiado e deprimido.

 

Durante a ocupação alemã escondeu-se em pequenas cidades no interior da França. Não era judeu, nem comunista, seu socialismo não se diferençava do de Rolland. Tanto um como outro não tiveram a Gestapo seguindo seus passos. Nas memórias de Zweig é mencionado em três ocasiões. Na primeira coletânea de ensaios, Encontros com homens, livros e países, Zweig incluiu um texto sobre Masereel.

 

 Ele retratava as pessoas em seu isolamento na civilização moderna, oferecendo, ao mesmo tempo, possibilidades de ação. Em sua obra de xilogravurista, fez séries como as Vinte e cinco imagens da paixão de um homem (1918), as oitenta peças O rosto de Hamburgo ou as cem do ciclo A cidade, de 1925. De 1947 a 1951, dirigiu em Saarbrücken aulas de pintura na recém-fundada Escola de Artes e Ofícios. Fundou em 1953 na Suíça a Sociedade Internacional dos Xilogravuristas Xylon. Depois da Segunda Guerra Mundial, até 1968, publicou séries de gravuras representando variações de um mesmo tema. Foi objeto de numerosas exposições e membro de várias academias de arte. Deu nome a instituições como o Frans Masereel Centre, em Kasterlee, Bélgica, e o Masereelsfonds, entidade de promoção da língua flamenga, originalmente associada ao Partido Comunista Belga e hoje de orientação progressista independente.

 

Endereço na Agenda: 30 Rue des 3 Faucons, Avignon.